terça-feira, 30 de novembro de 2010

A primeira operação militar em Angola...


Alferes Garcia e furriel Viegas, no Quitexe, momentos antes da partida para mais uma operação
militar (em cima). Em baixo, o crachat dos Grupos Especiais (GE)

Os Grupos Especiais (GE) eram pequenas unidades especiais de assalto, constituídas em Angola por despacho do Comando-Chefe, de 25 de Agosto de 1971. No caso do Quitexe, eram dois: o nº. 217 e o nº. 223 - que alternavam quinzenalmente a sua prestação do serviço do BCAV. 8423. O GE 222 estava adido à 2ª. Companhia, em Aldeia Viçosa; o 208, à CCAÇ. 4145/72, de Vista Alegre.
Se querem saber, a minha primeira grande operação militar, nas matas da serra da Quimbinda - em data próxima dos finais de Junho de 1974 - foi exactamente com 62 elementos GE´s, os dos Grupos 217 e 223.
Os sustos e as aflições daquelas duas noites e três dias, davam para  um livro. À memória, vem-me os momentos de terror - os da primeira!!!... -, os murmúrios e os silêncios da noite branca de Angola, que senti em terreno inóspito e desconhecido, rodeado de árvores gigantes a mexerem vento quente e de selva quase impenetrável. Por lá fui conduzido pelos dois Grupos, após uma safra de mais de 16 horas de caminhada por trilhos semeados de perigos, apenas interrompida pela rápida hora da ração de combate que eu próprio não comi.
Não comi e não dormi, nessa primeira noite. Não preguei olho!
Não mo deixaram os urros de feras que se ouviam de longe, algo sinistros; as gargalhadas da macacada que se divertia em serão, ou o barulho assustador que me contaram ser de pacaças em movimento apressado. E as sombras que se desenhavam na minha frente, como se fossem lobisomens na noite. 
E eu,hirto e medroso, a limpar a cara do cacimbo que caía, por ali me deixei ficar a  noite inteira, em alerta e ansioso, de olho vivo naquela selva que era imensa e a que não via o fim. Eu, com o corpo a pedir descanso, pois tinha sido um esgalgar doido de quilómetros naquele dia todo, que me maçaram os pés e a alma!!
E a sei lá a que horas, deu-me para estender o corpo no chão. Corpo moído e com fome de bons tratos! Ao olhar o céu azul e brilhante de Angola, imaginei os anjos do céu e transportei-me para a minha aldeia, correndo casa a casa, todas ruas e portas e nomes da gente que me fazia saudades.
Alvoreceu, num instante. «Daqui fala o 14 do 217, escuto!!!...». Escutou-me, noutra ponta da serra da Quimbinda, o soldado de transmissões do PELREC, comandado pelo alferes Garcia. Estava tudo a correr bem. Mataram-se-me alguns medos e lá se foi para o segundo e o terceiro dias de operação, a palmilhar trilhos e mata, mas ficando nós sem comunicações - que só conseguimos já passava do meio da manhã do último.
«Pensámos o pior!!!...», disse-me o Garcia, entre duas garfadas de bife com batatas fritas e ovo a cavalo, no refeitório dos praças, já a noite se cerrava sobre o Quitexe. Consolava-me das minhas angústias daqueles três dias de selva.
Os GE´s do Quitexe foram desactivados a 30 de Novembro de 1974. Faz hoje 36 anos! Sem quaisquer problemas!
- VER AQUI.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O soldado Branquinho que chegou a major e às mãos da PM...



ANTÓNIO CASAL (texto)


Sempre que volto ao “baú” que me avivam as memórias de África, dou com alguma coisa que já estava esquecida, ou quase. Desta vez foi uma foto tirada em Carmona, num dia de Páscoa de 1973. E lá está o Branquinho, o homem da secretaria, que era dado a cometer proezas inéditas. Não tivesse ele sido, no espaço de um ano, soldado recruta, furriel, quase 1º. cabo, soldado, major e de novo soldado!

Sempre ouvi dizer que a presunção incontrolável impele a que se dêem passos maiores que as pernas. Logo, não é defeito mas doença para a qual não há tratamento! Apenas por esta razão, ao Branquinho eram “admitidas” determinadas atitudes, desde que não prejudicasse terceiros ou não ultrapassasse em muito as mais elementares regras militares!
Como todos, ele teve direito ao seu mês de férias e lá foi até Luanda dar as suas passeatas e ver o que no Quitexe não havia, nem em qualidade e nem em quantidade, como ele gostava de frisar.
Na grande capital, e já com pouco dinheiro na algibeira, sentiu que as morenas sensuais lhe escapavam por entre os dedos. Se trajado à civil a coisa estava feia, fardado também não iria a lado nenhum! Então e não é que o Branquinho optou pela farda?! Pois optou, mas nos ombros colocou galões! E de major!!! Ainda pensou em “ser” alferes, mas lá viu que já eram muitos a fazer-lhe concorrência!..., e atirou-se para o tudo ou nada!
Dizem que chegou a ter sucesso com uma beldade influente na sociedade luandense, mas foi na companhia da segunda conquista que descobriram o logro! E quem haveria de ser?!... A Polícia Militar, pois claro!
Passeavam-se que nem namorados e a beleza dela, mais do que os galões dele, chamaram a atenção! Conta quem viu, que na hora da identificação, ficou vermelho até às orelhas e que ainda esboçou um gesto para a fuga!
Ora, o Branquinho com 22 anos, baixinho e ainda isento de penugem que lhe enraizasse a barba, como se fosse depilado, não deixou dúvidas à PM!
Atirado para o jeep, pela PM, que se esteve nas tintas para a donzela, lá andou em bolandas e a puxar, não dos galões, mas das cunhas. E voltou ao Quitexe, com o seu ar imaculado, e a agarrar-se a um oficial influente que acalmou as hostes em Luanda e que conseguiu o milagre de tudo ficar como nada tivesse acontecido. E ele sabia bem o que o destinava! Mesmo assim, continuou os seus desmandos que, não nos prejudicando, sempre nos serviam para animar os nossos serões mais lúdicos!
ANTÓNIO CASAL
FOTO. António Casal e Branquinho,
num jardim de Carmona

domingo, 28 de novembro de 2010

Uma fugidinha a Luanda...


Baía de Luanda (foto retirada da net)

E que tal um finalzinho de semana de boémia em Luanda? Que luxo!!! E que desafio, ante a cada vez mais apertada malha persecutória de uns senhores de divisas ligeiramente acima, que muito gostavam de ralar a vida dos furriéis. O risco valia sempre a pena, pela beleza que era a capital, pelos apetites que nos oferecia, pelas noites e pelos amigos que por lá nos aumentavam saudades. E, depois, sempre era um fugidinha ao ambiente de tropa, por muito bom que fosse.
A 28 de Novembro de 1974, uma 5ª.-feira e chegado de uma missão de escolta às brigadas da JAEA que trabalhavam na reabilitação da estrada (picada) para Camabatela, ao fim da tarde, confirmei que estaria de serviço apenas na 2ª.-feira e não foi tarde, nem cedo, aí pensei eu em me aventurar para Luanda, em boleia de um amigo civil que lá ia a um baptizado e voltaria no domingo. Era irrestível!!!Já andava com esta fisgada, há semanas!
Sobrava um problema: como escapar à malha disciplinar? À acção participativa que me tornaria alvo fácil?? Pus o caso ao tenente Mora, que não atou nem desatou. Ao capitão Oliveira, nem valeria a pena - embora tivesse ele de assinar a dispensa - o passaporte. Então?
«Tem alguém que de Luanda possa mandar uma mensagem?», perguntou-me o capitão Falcão, que estava a comandante da Unidade e com quem tinha relações próximas, pela afinidade dele com o alferes Garcia, o meu comandante de pelotão.
Ter, talvez tivesse!! Só que...
A questão resolveu-se com uma simpatia do capitão Falcão, que, de forma oral, disse para o comandante da CCS, à porta do seu gabinete: «Capitão Oliveira, preciso deste homem até 2ª. feira. É preciso algum papel?...». Que não, que não era. E não foi. E lá fui eu, na madrugada de 29 de Novembro de 1974, num Toyota Corolla que nosdemrou umas três horas e tal até Luanda. Pelo caminho, no Úcua, parámos no bar onde trabalhava o Neca Taipeiro, meu vizinho de aqui a 100 metros e que por lá fazia vida - depois de, em 1961, por lá ter sido combatente. E lá foram uma cucas, que fazia calor naquele verão angolano de 1974.
«Tens de estar na formatura das 8...», disse-me o capitão Falcão. E isso sabia eu e lá estive, a 2 de Dezembro desse ano. Chegara meia dúzia de horas antes, depois de jantar em Luanda com o Albano Resende e ter sido apanhado pela boleia do mesmo civil do Quitexe. Quem era ele? Estou a ver-lhe a cara mas não me sai o nome de debaixo da língua.  
Ver AQUI.

sábado, 27 de novembro de 2010

O capitão Falcão como comandante interino do Batalhão

Tenente Coronel Almeida e Brito e capitão Falcão (foto de 1994), no Encontro de Águeda.
Estandarde da CCAC. 4145/72, de Vista Alegre (em baixo)


A Companhia de Caçadores 4145/72 foi de malas aviadas para Luanda e deu vaga à 1ª. CCAV.8423 em Vista Alegre, ida de Zalala. E a temporada de acalmia operacional continuou  nos últimos dias de Novembro de 1974.
O Comando do Batalhão de Cavalaria 8423, instalado no Quitexe, estava assegurado desde 4 de Novembro, interinamente, pelo capitão José Paulo Falcão - oficial adjunto (e responsável pelo Gabinete de Operações) que substituiu o tenente-coronel Almeida e Brito, que a Lisboa veio de férias. O BCAV. 8423, recorde-se, não tinha 2º. comandante - dado que o major de cavalaria José Luís J. Ornelas Monteiro, fora «desviado» em vésperas de embarque, para o Comando Chefe das Forças Armadas em Angola (CCFAG), por instruções (suponho) do Movimento das Forças Armadas (MFA).
O comandante interino teve «intensa actividade», nomeadamente em sucessivas reuniões no Comando de Sector, em Carmona - embora realizadas no BC12. Por exemplo, nos dias 8, 13, 18 e 22 de Novembro. E 27 de Novembro, hoje se completam 36 anos. A 21 de Novembro, esteve em Vista Alegre, despedindo-se da CCAC. 4145/72. A 25, em Aldeia Viçosa, onde cumpria missão a 2ª. CCAV. 8423, comandada pelo capitão miliciano Cruz. Daqui e desse tempo, há notícias do Matos, sobre pequenas escaramuças entre elementos da FNLA e alguns comerciantes e fazendeiros, mas coisa sem importância de maior.
O medo, porém, era o de que ódios velhos, ressacados de muitos anos de luta armada e sabe-se lá quantos de injustiças, dessem em vinganças pessoais, nesta fase de transição - que, principalmente, carecia de moderação e temperança. Nem sempre tal aconteceu. 
Em Santa Isabel, ultimava-se a rotação para o Quitexe.
- BRITO. Carlos José Saraiva de Lima Almeida e Brito, tenente coronel e comandante do BCAv. 8423. Faleceu a 20 de Junho de 2003, já aposentado e com a patente de general. Ver AQUI.
- FALCÃO. José Paulo Montenegro Mendonça de Falcão, capitão de cavalaria e oficial adjunto (de operações). Actualmente, tenente coronel aposentado, residente em Coimbra. Ver AQUI.
- CRUZ. José Manuel Romeira Pinto da Cruz, capitão miliciano, comandante da 2ª. CCAV. 8423. É professor, em Esmoriz, onde reside. Ver AQUI.
- MATOS. Mário Augusto da Silva Matos, furriel miliciano atirador de cavalaria, em serviço na secretaria da 2ª. CCAV. 8423. Colaborador de uma empresa de Anadia, onde reside. Ver AQUI.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

O comício da FNLA em Vista Alegre

Zona de intervenção militar do Batalhão de Cavalaria 8423 - Angola 1974/75

A 25 de Novembro de 1974, a 1ª. CCAV. 8423, do capitão Castro Dias, completou a rotação para Vista Alegre e, definitivamente, foi abandonada a posição que desde 1961 as Forças Armadas Portuguesas ocupavam na Fazenda de Zalala - que foi terra-mártir, e de gente heróica nos primeiros tempos de combate com os movimentos de libertação, nomeadamente da UPA, a mais tarde FNLA.
A 26, uma 3ª. feira, realizou-se na vila um comício da FNLA - cujos chefes se vinham apresentando às autoridades militares portuguesas, no quadro do entendimento que se encaminhava para a independência angolana, depois do cessar-fogo oficial. Eram tempos já bem mais calmos.
«Uma acalmia não encontrada há longos anos», lê-se no Livro da Unidade. 
Não tenho memórias nem consegui saber pormenores do comício de Vista Alegre, povoação localizada numa zona já confluente com os Dembos - onde predominava o MPLA. Mas é sabido que os contactos com as NT eram já ao nível das chefaturas e que a FNLA, arredondando interesses que não impusera ao MPLA pelas armas - nas lutas entre os próprios movimentos pela ocupação territorial -, pretendia, obviamente, anular a influência local do movimento liderado por Agostinho Neto.
A tropa «assistiu» no seu posto, atenta a movimentos que pusessem em causa a segurança da vila e das populações, não havendo notícia de especiais incidentes.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Aqui se diz bem de um dos nossos, o dr. Leal!


Quem os nossos ama,
de nós gosta»
- Citação popular

«Aos 82 anos, Manuel Cipriano Leal, ou apenas dr. Leal, conhecido na região de Fafe, continua sentado no consultório, de porta aberta, para atender a todos. A genica já não é a de outros tempos, mas a vontade de ajudar o próximo mantém-se vigorosa. "Sinto-me bem assim, é da minha natureza", deixa escapar, entre um chorrilho de recordações.
Dos montes e vales da região que circunda a cidade de Fafe, o dr. Leal lembra os dias a fio em que percorreu, muitas vezes a pé, os lugares de onde recebia o chamado. "Às vezes chegava a casa de madrugada e tinha logo que sair. O telefone não parava", contou. Ainda hoje não nega uma chamada.
"Seja onde for...".
E sempre com o espirito solidário que o acompanha desde o berço, em Santarém.
Ligado às Conferências de S. Vicente de Paulo, o dr. Leal cedo se apercebeu das necessidades da população. "Entrava numa casa e avaliava logo a condição das pessoas. É da minha formação. Muitas vezes levava a medicação para os primeiros dias e deixava-a ficar"
Em fim de carreira, mantém esse orgulho em ajudar o próximo e, após 50 anos de exercício, conhece bem quem o procura. "Ajudo, mas não sou daqueles que vou cobrar mais a um que pode só porque não cobrei a outro que não podia...", explicou.
Apesar da idade, diáriamente está no consultório e os fafenses sabem que têm no dr. Leal alguém disposto a ajudar desinteressadamente por uma boa saúde».
Texto do Diário Transmontano,
enviado por ANTÓNIO CASAL






quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O beduíno que ameaçou o furriel...

Rocha, Mosteias, Neto, Viegas e Graciano (à esquerda), Machado, Cruz, NN (tapado), Miguel
(paraquedista) e NN, em almoço na messe de sargentos do Quitexe



Os últimos dias de Novembro de 1974 continuaram grandes decisões no reordenamento do dispositivo militar do BCAV. 8423. Foi embora a 4145/72, mudou-se a 1ª. CAV. para Vista Alegre, a CCAÇ. 209 abandonou a Fazenda Liberato e a 3ª. CCAV., a de Santa Isabel, aprontava malas para se aviar para o Quitexe.
Isto até pode parecer uma narrativa muito repetitiva, mas não é.É que se viviam emoções díspares, por aquele tempo. Na guarnição. Umas de ansiedade, por não sabermos quanto tempo iríamos ficar por lá - e só voltaríamos em Setembro de 1975. Outras, de revolta - pelas atitudes persecutórias de alguns (pequenos) «senhores da guerra».
O Rocha, que era dos mais discrectos de todos nós, assim como o Pires de Bragança - ambos de transmissões -, meteu fala grossa pelos fins de Novembro, revoltado com uma atitude desconsiderante, de um superior hierárquico. «Ameaçou-me, pá!... Eu não fiz nada de mais...», queixou-se em conversa de bar, na espera de almoço.
O que foi, o que não foi..., fôra coisa de nada. O Rocha, que era zeloso, cumpridor, disciplinado, tinha sido chamado à atenção, de  forma que achou injusta, desadequada e ofensiva. Porque, o exercício das sua funções, coisa dissera a um praça que, sem querer, iria contra o interesse do tal superior.
«Esse beduíno?!!! É um filho da p..., não te rales», afiançou-lhe o Machado, de dedo em riste e esgar assumido para o habitual «combate» com tal superior.
Amedrontou-se o Rocha, empalidecendo as maçãs do rosto, mas tudo passou na hora do almoço, durante o qual, combinados, servimos sobremesa de piadas - e das bem fortes, a gozar a cena!... - ao chefe que lhe apontara dedo. Foi remédio santo. Calou-se, o herói. «O beduíno!...», diria o Machado.
- ROCHA. Nélson dos Remédios da Silva Rocha, furriel miliciano de transmissões. Natural e residente em Valadares (Gaia).
- PIRES. José dos Santos Pires, furriel miliciano de trasmissões. Aposentado da GNR, residente em Bragança.
- MACHADO. Manuel Afonso Machado, furriel miliciano mecânico de armamento. Natural de Covelo do Gerez (Montalegre) e residente em Braga, onde é quadro da EDP.
- BEDUÍNOPovo nómada que vive nos desertos do Oriente Médio e do norte da África. Era designação utilizada como desconsiderante, pelo Machado, sempre que queria diminuir alguém.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Adeus, Zalala!!!....


Gruta com a imagem de
Nossa Senhora de Fátima,
em Zalala

A 24 de Novembro de 1974, os nossos companheiros de Zalala faziam as malas e arrumavam os seus «adeus» para a última noite ma mítica posição militar portuguesa do norte angolano: estava em rotação, de saída para Vista Alegre.
A decisão foram tomada a dia 8 anterior, no âmbito da remodelação do dispositivo militar do BCAV. 8423.
A Fazenda do Liberato também por esta altura ficou sem guarnição militar. As Forças Armadas portuguesas iniciavam o caminho da descolonização - bem ou mal concertada pelos aparelhos políticos, o português e os angolanos.
A 1ª. CCAV. 8423 era comandada pelo capitão miliciano Castro Dias e por lá cumpriram missão muitos amigos. Mais próximos de nós, naturalmente, os furriéis milicianos, nomeadamente o Pinto - companheiro de especialidade nas Operações Especiais, em Lamego. Mas também, por proximidade gerada de afectos que se multiplicavam sem que os entendamos bem, o Mota Viana (que também andou por Lamego), o Queiroz, o Vitor Costa (companheiro de recruta, em Santarém, na Escola Prática de Cavalaria) - e o Aldeagas (atirador, alto-alentejano), o Louro (também do Alentejo, atirador), o Nascimento (alimentação), os dois Dias (transmissões e mecânica), o enfermeiro Barreto e os atiradores Barata, Rodrigues e Eusébio.
Companheiro de Lamego era também o alferes miliciano Sousa - Mário Jorge de Sousa Correia de Sousa. Outros alferes, eram os atiradores Sampaio, Pedro Rosa, Carlos Sampaio e José Manuel Lains.  E a mais de centena e meia de 1ºs. cabos e soldados que formavam a guarnição.
Zalala foi local de várias passagens minhas, com o PELLREC - uma ou duas em operações, não sei quantas em escoltas. Lá dormi uma (meia) noite, a fazer vésperas de partida para uma operação militar, e dela recordo a camaradagem que se respirava na guarnição. E não havia medo que assustasse aquela boa e corajosa gente que o capitão miliciano Castro Dias comandava. 
AQUI se fala de Zalala. AQUI. E AQUI. E AQUI.
E outros espaços deste blogue.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A história do álcool com a liamba do homem do Talabanza


ANTÓNIO CASAL
Texto

Porque aqui se escreveu sobre liamba, recordo-me de numa qualquer madrugada ter acordado com algazarra que nos guiou até junto à padaria civil, na estrada do café.
Um indivíduo de raça negra, na casa dos 30 anos e armado de faca, cambaleava e balbuciava um dialecto que não entendíamos. A única palavra quase perceptível que repetia, parecia-nos ser a do nome de um comerciante, proprietário de um bar perto das bombas de combustíveis. E era nessa direcção que ele, de olhos revirados, insistentemente apontava o dedo! «É os patrão dos loja dos remédio!...», dizia-nos, a medo, um “tradutor” local, de ocasião.
Cerca das nove horas, quando tudo parecia já sanado, voltaram as ameaças, envolvendo agora um militar do Pelotão de Morteiros, a quem tentou alargar a sua ira. Não caiu o mimo em boa rosa e as coisas complicaram-se um pouco. Digamos que muito!...
Só acalmou com a chegada do Cabo Cipaio que, usando métodos arcaicos, controlou a situação. E de que maneira!!! Não, não foi para a enfermaria, não senhor! Ou melhor, foi… mas cerca de uma hora depois para lhe serem tratadas algumas escoriações sofridas, acreditamos que “acidentalmente”, no interior da Administração!
E tudo isto porque não lhe terão sido vendidos, como pretendia, três frascos de álcool puro, mas apenas um - foi a explicação, em jeito de comunicado, dada pelo comerciante em plena rua. Segundo este, o indivíduo, que era residente na sanzala Talabanza, tinha por vício beber álcool puro, a que juntava umas boas fumaças de liamba! Não acreditei e perguntei à Teresa, a lavadeira que me mimava a roupa na sanzala Canzenza. E que logo me garantiu em tom grave, não gostando da minha dúvida: «Chiiiiiii…Teresa não mente!..., jura “Sangue de Cristo”!..., Huuumm....»!!!
A ocorrência, muito comentada nos bares dos militares, terá sido até muito proveitosa porque terá servido, dizia-se, de alerta a duas ou três «inteligências», que ultimamente quase se tinham mudado para a sanzala Talabanza e andavam por ali a inventar umas misturas – alcoólicas e outras! E porque estava atento quem devia, por via dessas habilidades quase viram os seus passaportes carimbados para Zalala! Mas a história do álcool não morrera ainda!...


Alguns dias depois, inesperadamente, de novo «liambado» e ainda com as marcas da primeira escaramuça vivida na Administração, ele voltou à carga disposto a vingar-se da humilhação! A coisa esteve muito feia e chegou a recear-se o pior. Mas não foi muito longe! «Amistosa e simpaticamente», como era apanágio dos Cipaios, este guiou-o de novo à Administração, ficando eu com a sensação de que a “desintoxicação” iria mesmo resultar!
A maior apoiante desta disciplina foi a mulher que, durante mais de meia hora cantou em dialecto, enquanto dançava o que nos parecia ser um ritual.
Não sei o que dizia, mas notavam-se-lhe as feições assaltadas de inquietação! «Mulhé tá contente, munto contente!...», logo me disse um velhote desdentado, ligado às suas origens! Lá teria as suas razões! E tinha!
Porque os tempos eram de há 36 anos atrás, o “Xanax” ainda não existia no pequeno armário da farmácia privada do Quitexe! Talvez por isso, quem sabe, os Cabos da Administração recorriam ainda a métodos ancestrais para acalmar as mentes agitadas! E bem duros, testemunharam os meus olhos!!!
Trinta e oito anos depois ainda não estou, como nunca estive, completamente convencido da versão do comerciante. Não é que eu não queira acreditar, mas porque os meus olhos chegaram a ver o que dias antes, se calhar, não deviam! Agora é tarde, ficará sempre a dúvida!
A ocorrência despertou a atenção dos militares mais curiosos, que não hesitaram em subir a transversal em direcção à estrada do café. Saiu-lhe caro, não se lembrando eles do sempre atento Capitão, que lhes montou uma teia e não perdeu a oportunidade de mandar aplicar alguns serviços.
«Filho da p…ta, onde é que o gajo estava que ninguém o viu?!..., parece que tem 100 olhos»!..., praguejavam os “desertores” dos serviços.
Com ou sem pragas, o certo é que os postos de sentinela que protegiam a pequena vila do Quitexe mais pareciam pequenos Estádios da Luz! Tantos foram os serviços à “Benfica”!!!

domingo, 21 de novembro de 2010

O DIA DOS MEUS 22 ANOS NA SAUDOSA VILA DO QUITEXE...



A 21 de Novembro de 1974, fez a minha excelentíssima pessoa 22 verdes aninhos, festejados no Quitexe - que foi meu berço de 6 de Junho desse ano, até 2 de Março de 1975.  E adivinhem: estava de serviço. Serviço á ordem, nomeado de véspera, como era de circunstância!
A foto aí me mostra, de braçadeira verde, na avenida principal da vila e área das instalações militares, com o bar dos praças em fundo. Na minha frente, estavam os edifícios civis onde se acomodavam a messe de oficiais e a casa dos furriéis.
Não diria que houve apostas, mas entre o grupo mais restrito de furriéis não havia quaisquer dúvidas de que eu estaria de serviço nesse dia.
Além do que de 21 de Novembro de 1974 já falei, VER AQUI, recordo agora que nessa quinta-feira de Novembro houve alguma agitação na CCS, no âmbito a messe de sargentos (de sargentos e furriéis), devido a uma imposição de regras que os mais recalcitrantes acharam despropositadas: ter de esperar pelos sargentos, antes de se começar a refeição. Mandamento que já desde uns dias antes era muito falado.
O que nos ia «safando» era a sempre providencial chegada bem cedo do sargento ajudante Machado, que não era dos que melhor ouvia e porventura se fez de orelhas moucas à disciplina que outros arbitrariamente queriam impôr. E lá nos punhamos nós a comer, sentadinhos na mesa - a privilegiar os estômagos com as ementas que o Almeida preparava, com a ajuda preciosa do Rebelo.
À volta de 21 de Novembro de 1974 e a regar a verdura dos meus 22 anos, recebi 18 cartas e aerogramas, com os convencionais «parabéns a você». Reli-as esta tarde e que... saudades! Hoje, houve almoço de famílias e umas prendinhas! Com a devida atenção às dores deste corpo que por cá anda há 58 anos!
- MACHADO. Luís Ferreira Leite Machado, sargento ajudante, adjunto do tenente Acácio Luz, na secretaria do Comando do BCAV. 8423. Ver AQUI.
- ALMEIDA. José Maria Antunes de Almeida, 1º. cabo cozinheiro, ao serviço da messe de sargentos. Natural de Arganil, reside em Benfarras de Boliqueime (Loulé).
- REBELO. José Joaquim Robalo Rebelo, auxiliar de cozinha, ao serviço da messe de sargentos. Carpinteiro, mora em Odivelas.

sábado, 20 de novembro de 2010

Véspera dos 22 anos de um furriel miliciano dos «ranger´s »...

Ponte do Dange (em cima) e Vista Alegre,onde estava instalada a CCAÇ. 4145/72, do
Sub-Sector do Uíge e dependente do BCAV. 8423 

A 20 de Novembro de 1974, se bem me lembro, o PELREC foi em escolta ao capitão Falcão - que interinamente comandava o BCAV. 8423 e ia em visita de trabalho a Vista Alegre. Era o dia de véspera de saída da CCAÇ. 4145/72, por lá aquartelada e com destacamento na Ponte do Dange. Para lá iria, da épica Fazenda Zalala, a 1ª. Companhia de Cavalaria do Batalhão de Cavalaria 8423 - comandada pelo capitão miliciano Castro Dias.
A rotação começaria a 21 de Novembro - dia especialmente particular para mim, pois faria 22 anos. E fiz!
Foi, certamente, a última vez que por lá estive e nada me custa confessar que, ao tempo, fiquei com alguma inveja, relativamente aos «caçadores» da 4145/72, que iam marchar para Luanda - julgo eu que para logo depois viajarem para Lisboa.
Por lá vi alguns militantes da FNLA, ex-gerrilheiros, que se apresentava às autoridades militares portuguesas - nos termos dos acordos feitos entre o Alto-Comissário Português e os dirigentes dos movimentos emancipalistas. Gente que, valha a verdade, nos parecia algo estranha e desconfiada, muito sorumbática ou excessivamente deslumbrada, e que, aqui se diz em confissão, não inspirava grande confiança.
Estranho, muito estranho mesmo, foi ouvir sussurro na guarnição quanto à alta probabilidade de por lá se ir realizar um comício-em Vista Alegra. O que era um comício? Nem nós sabíamos bem. Estava marcado para o dia 26 de Novembro.
- CASTRO DIAS. Davide de Oliveira Castro Dias, capitão miliciano e comandante da 1ª. CCAV. 8423, estacionada em Zalala e depois em Vista Alegre. Ver AQUI.
- PONTE DO DANGE. Sobre o rio Dange, fronteira natural que separa as províncias do Uíge e do Bengo. A ponte definitiva foi construída em 2008, por um consórcio chinês. Ver AQUI.  Foto do jornalista e escritor Luís Fernando.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A verdadeira história do Buraquinho

Alfredo Coelho, o Buraquinho, numa simulação de «guerra». Ao fundo,
vê-se a messe de sargentos do Quitexe. À direita, parte da messe de oficiais 


ALFREDO COELHO (BURAQUINHO)
Texto

A origem da alcunha de BURAQUINHO veio quando eu estava em Tavira, no CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria), em instrução nocturna. Um dos instruendos, perguntou-me se eu tinha verificado bem a carta topográfica e se tinha tirado o azimute e eu respondi-lhe que sim. Então ele comentou: «Olha que isto vai dar buraco, e nunca mais vamos sair da serra para fora, para chegarmos ao quartel a tempo».
Eu disse-lhes: «Tende calma, que eu vou arranjar uma solução».
O instruendo estava nervoso e a chorar, porque era um copinho de leite, e ficava com o fim-de-semana cortado, caso nós chegássemos para além do tempo marcado. Então, mais uma vez peguei na carta topográfica e na bússola e, com as coordenadas, tirei o azimute e, por casualidade, deu-me um bom ponto de referência. Então, eu disse-lhes: «Pronto rapazes, já estamos safos, encontrei um buraquinho para sairmos da serra, e vamos chegar a tempo ao quartel».
Quando formávamos batalhão em Santa Margarida, eu estava com os elementos do serviço de saúde, quando apareceu um cabo miliciano que era do meu curso em Tavira e me diz: «Ó Alfredo, por aqui? Foste tu que nos valeste quando estivemos em Tavira e disseste “encontrei um buraquinho...» .
Os elementos de serviço de saúde da nossa companhia  acharam piada, começaram a rir-se e puseram-me a alcunha de Buraquinho.
É esta a história da alcunha. Como poderão verificar nada tem a ver com o meu nome. Eu sou Alfredo Rodrigo Ferreira Coelho. Mas, enfim!, a vida é mesmo assim.
ALFREDO COELHO
(Buraquinho)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O dr. Leal, a dra. Margarida e os três madeireiros mortos no Quitexe...

Enfermaria militar do BCAV. 8423, no Quitexe (em cima) e alferes Cruz (em baixo)




Vim ao Cavaleiros do Norte e... que agradável surpresa recordar o HOMEM e amigo Dr. Leal!!! Com ele, ninguém podia estar mal disposto e, nas condições em que estávamos, isso valia muito.

Recordo, por agora, uma pequena história:
A minha esposa Margarida tinha chegado do «puto» e, depois de a ter ido buscar ao Negage, comecei a fazer as apresentações. Como futura colega, fui apresentá-la ao Dr. Leal que, com toda a simpatia, tentou mostrar-lhe que a nossa vida ali era boa e folgada. Depois perguntou: «Então, colega, que cadeiras é que lhe faltam para ser médica?».
A Margarida lá lhe respondeu.
«Então pode vir comigo à Delegacia, parece que temos lá problemas...».
Quando chegou, vinha branca.
«Sabias que estavam lá 3 madeireiros irreconhecíveis e tão queimados que nem um metro de comprimento tinham ? Afinal, ainda há guerra !!!», disse-me ela.
Foi remédio santo. Daí para a frente, tudo o que acontecia nunca era pior...
Daqui envio um grande abraço para o Dr. Leal e família.
António Sousa Cruz
- PUTO. Designação com que identificava o Portugal Europeu.
- CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano, comandante do Parque-Auto, engenheiro, natural e residente em Santo Tirso.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dia da mobilização para Angola, faz hoje 37 anos!

A Nota nº. 47000 - Pº. 33.007, de 17 de Novembro de 1973 - hoje se completan 37 anos! -, da Repartição de Serviço de Pessoal, da Direcção de Serviço de Pessoal do Ministério do Exército, dava conta da mobilização de uns quantos mancebos, «nomeados para servir no Ultramar».
Ultramar era a designação oficial das colónias portuguesas, que ao tempo iam da Europa à Oceânia (Timor-Leste), passando por África  (Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique) e pela Ásia (Macau). Um império e pêras!
Era também o destino da minha geração, que se habituara a ele desde 1961 - éramos ainda crianças, a caminho da adolescência, da juventude e da guerra!
Um um dos mancebos era eu!
Outro, era o Neto.
Outro ainda, era o Monteiro!
E muitos outros, para outros batalhões.
As chamadas «Nomeações para o Ultramar» não nos chegavam logo que decididas e a nossa só viria a ser publicada na Ordem de Serviço nº. 286, de 7 de Dezembro de 1973, do Centro de Instrução de Operações Especiais (CIOE), em Lamego. Eram feitas nos termos da alínea c), do artº. 20º. do Decreto-Lei nº. 49107, de 7 de Julho de 1969.
Eu, o Monteiro e o Neto éramos mobilizados para Angola.
Assim diz, na parte que me respeita: «1º. cabo miliciano «Op. Esp». mec. 06810773, CELESTINO J. P. M. VIEGAS, do RC4 e adido a este Centro e à CCAÇ., com o nº. 487/73/A.
Destinado ao BCAV 8423/RC4/RMA».
Pronto, estava «destinado» o destino. E lá se passaram 37 anos!
- CIOE. Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego.
- OP. ESP. Operações Especiais.
- CCAÇ. Companhia de Caçadores.
- BCAV. Batalhão de Cavalaria.
- RC4. Regimento de Cavalaria 4, em Santa Margarida.
- RMA. Região Militar de Angola.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os dias da nossa mobilização para Angola, em Novembro de 1973



O dia 16 de Novembro de 1973 era uma 6ª. feira e, ao tempo, cochichava-se cada vez mais, entre a guarnição do quartel de Santa Cruz e do CIOE de Penude, por Lamego, a iminência da nossa mobilização para Angola. Sabia eu que por aquele fim de semana por lá iria ficar de serviço e acomodei-me na minha convencional racionalidade: o que vier, virá!
Ao tempo, o grande desejo de cada mobilizável apontava para os ares de Angola, onde a guerra seria muito mais tranquila que nas trincheiras da Guiné-Bissau ou Moçambique. Pela Guiné, já o  PAIGC, de resto, a 24 de Setembro de 1973, anunciara a independência, unilateralmente, na colinas verdes de Medina de Boé - que eu viria a conhecer em 2000. O que por lá estaria a sofrer a tropa!! De Moçambique se diziam cobras e lagartos da Frelimo e a imprensa internacional falava de massacres.
Angola era o destino apetecível.
Por todos. Por mim, também porque por lá tinha família.
A noite de 16 para 17 de Novembro de 1973, em Lamego, comigo de serviço no quartel de Santa Cruz, deu para farta conversa com o Grilo, na messe de Almacave - onde refeiçoávamos. Naquela noite, vindo ele do treino do Sporting local, cansado e sem vontade de dormir, deu para grandes falas - continuadas no aquartelemento, onde a noite iria ser de alerta. Não se brincava em serviço, quando se estava de serviço, em Lamego.
O Grilo, que no domingo seguinte iria ter jogo - e de sargento de ronda na cidade, por lá iria passar eu... - veio ter comigo ao qaurtel, continuando a nossa conversa sobre a mobilização. Também ele, futebolista do SC de Lamego (por empréstimo) e nadador-salvador da Nazaré, queria Angola.
«Alguém tem de ir para a Guiné ou Moçambique...», disse-lhe eu, por dentro a rezar que a «rifa» me trouxesse Angola.
Mal sabíamos nós o que nesse dia, na Repartição do Serviço de Pessoal (RSP) do Ministério do Exército já tinha sido decidido sobre o nosso futuro.
- GRILO. Joaquim José Sales Grilo, ao tempo 1º. cabo-miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Funcionário público, natural e residente na Nazaré.
- PAIGC. Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, liderado por Amílcar Cabral.
- FRELMO. Frente de Libertação de Moçambique, liderada por Samora Machel, depois da morte de Eduardo Mondlane, em 1969.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Os transportes e a extinção de aquartelamentos

Reino, Carvalho e Belo na frente do bar de Santa Isabel

As carências de meios de transporte, nesta altura de 1974, complicaram a vida dos Cavaleiros do Norte, sublinhando-se embora - e por total justiça! - a eficácia permanentemente disponível e competente do bravo grupo de mecânicos, comandados pelo discreto e sempre atento alferes miliciano Cruz, com apoio do 1º. sargento Aires e do furriel miliciano Morais.
Quantas vezes uma falha mecânica poderia resultar em algum drama, assim se perdesse a viatura por alguma picada agreste, em fronteiras de alguns perigos???!!!
Uma vez, a caminho de Santa Isabel, numa ligeiríssima elevação de terreno, parou um «burro de mato», por avaria. Saltaram os «pelrec´s», a fazer aprudentada segurança, quando nos surgiu o Lino, como que caído do céu e que prontamente «saneou» a crise, cum artes que me escapam mas que fizeram o milagre de pôr o motor a trabalhar e a coluna a avançar.
Não se julgue que avaria destas é como quem por aqui anda na estrada e se vê empanado, chamando o pronto socorro e depois accionando o seguro. Lá, pelas picadas de Angola, uma avaria poderia significar mil perigos, horas de espera até que chegasse apoio - e todas elas (as horas) a medir a temperatura dos temores que nos enchiam a alma.
Aos meados de Novembro de 1974, houve grande movimentação de viaturas entre o Quitexe e Santa Isabel.
A 3ª. CCAV. 8423 preparava a sua rotação para a sede do batalhão e importava deslocar todos os seus bens e equipamentos.
«A rotação dos dispositivo militar conmeçou a ser efectivada à  custa de verdadeiros sacrifícios, dadas as carências de meios-auto, que permitissem a materialização desses movimentos», lê-se no Livro da Unidade. É que, sublinha-se, «envolviam não uma simples mutação, mas, sim, a extinção de aquartelamentos».
- CRUZ. António Albano Araújo de Sousa Cruz, alferes miliciano Mecânico-Auto. Engenheiro, natural e residente em Santo Tirso.
- AIRES. Joaquim António de Aires, 1º. sargento Mecânico-Auto.
- MORAIS. Norberto António Ribeirinho Carita de Morais, furriel miliciano Mecânico-Auto, natural de Niza e residente em Elvas, onde é quadro superior da Estação Nacional de Plantas.
- LINO. José Rodrigues Lino, furriel miliciano mecânico-auto, natural e residente no Fundão, empresário de madeiras (serração).
- REINO. Armindo Henriques Reino, furriel miliciano de Operações Especiais (Ranger´s), aposentado da GNR, natural e residente no Sabugal.
- CARVALHO. José Fernando Costa Carvalho,. natural e residente em Santarém. Aposentado da PSP.
- BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano de Alimentação. Aposentado da Administração Fiscal, do Retaxo (Castelo Branco).
- BURRO DE MATO. Assim vulgarmente se denominava o UNIMOG, veículo de transporte de pessoal militar. 

domingo, 14 de novembro de 2010

O aeroporto de Carmona, onde ir era chic...

Lino, Belo e Gordo, três furriéis Cavaleiros do Norte da 3ª. CCAV. do BCAV. 8423, no aeroporto de Carmona

O aeroporto de Carmona foi a nossa "porta de saída» para Luanda e local, nos nossos meses da cidade, para rituais passeios de lazer: ir ao aeroporto, digamos, era chic.
Operacionalmente, foi motivo de segurança máxima nos duros primeiros dias de Junho de 1975 - quando foi guardado de armas nas mãos, do fogo e da metralha que poderia atingir a pista, o hangar e o edifício principal, tornando-o inoperacional. Por lá, se evacuaram muitos «refugiados», para Luanda.
A foto, como se vê pelo jeito deles, descontraído e calmo, foi de passeio de três dos furriéis da 3ª. CCAV. 8423: o Lino, o Belo e o Gordo. Tudo boa gente!
Por lá havia um snack-bar/restaurante, com vista para a pista e onde se comiam uns bons pregos no prato, com ovo a cavalo, e uns excelentes  bifes grelhados, que regávamos a cerveja - raríssimamente com vinho, que por lá era bem caro.  
- LINO. José Rodrigues Lino, furriel miliciano mecânico-auto, natural e residente no Fundão, onde é empresário do sector de madeiras (serração).
- BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano de alimentação, aposentado da administração fiscal, natural e residente no Retaxo (Castelo Branco).
- GORDO. António Luís Barradas Mendes Gordo, furriel miliciano atirador de cavalaria, funcionário da Câmara Municipal de Alter do Chão, onde reside.

sábado, 13 de novembro de 2010

Imagem da coluna militar de Carmona para Luanda

Imagem da coluna militar de Carmoma para Luanda, em Agosto de 1975. Repare-se que se vêem viaturas até ao fundo da recta. A coluna chegou a ter 24 quilómetros de viaturas 

 
A epopeica coluna militar de Carmona para Luanda já aqui foi contada, com narrativa o mais pormenorizada que se soube, mas com poucas imagens fotográficas. Esta foi-nos enviada pelo Belo, que foi furriel de alimentação da 3ª. CCAV. 8423, a de Santa Isabel, e nela (na coluna) seguiu.
«Chegámos a estar entricheirados debaixo dos carros, perto de Malange e noutros sítios. Fomos ameaçados!! Havia um grande confronto entre o MPLA e a FNLA, que rococheteava em nós...», recordou Agostinho Belo.
A foto, se a memória não falha, terá sido tirada numa zona completamente deserta do itinerário, numa das situações em que a coluna foi interpelada pelo MPLA ou pela FNLA. Essas situações repetiram-se, é difícil identificar o local e muito menos quem era o «agressor» - o que, para o que aqui falamos, vale o mesmo.
«Havia sempre medo, quando passávamos em zonas desertas, principalmente por sanzalas abandonadas», recordou-se o Belo.
Ver AQUI e postagens anteriores e posteriores

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A ligação familiar do capitão médico Leal a Águeda

Tenente Luz, alferes Ribeiro e Hermida, tenente Mora, alferes Cruz, capitão Oliveira, alferes miliciano médico Honório Campos e capitão miliciano médico Leal


Volto hoje ao capitão miliciano Leal, quem a  graça do destino me fez reencontrar na noite de ontem. Porque, imaginem lá, ele tem «coisa» a ver com Águeda, a minha terra, da parte da «mais que tudo» de sua vida, a mulher - que é familiar do arquitecto António Carneiro, que foi meu professor e empresário do sector de faianças.
«Ai não sabia?!...», perguntou-me ele, a brincalhar, em farta gargalhada, com a minha surpresa e a aquecer-me a alma com a riqueza de pormenores que me contou do seu «ramo» aguedense.
«Ó dr. Leal, mas como é que é possível que eu não soubesse disso?!... Como é possível?!», , interroguei-o eu, a beber a surpresa, muito embora inocentado pela minha ignorância sobre a árvore genealógica do dr. Leal. 
Riu-se o doutor, que por Santarém se mestrou em clínica geral, «fez» todas as especialidades em Angola e por cá curriculou mais de 30 anos no Hospital de Fafe e nas redondezas que o reclamavam - a Misericórdia, os lares e as creches, a toda a gente que precisou da sua bondade e da sua sabedoria médica.
«Ainda hoje vou a Celorico ou a Felgueiras, se me chamarem. Vou sempre...». E dá consultas diárias, no rés-do-chão da sua casa de Fafe, a que se ligou pelo casamento, em 1959. «Um ribatejano só se dá bem no Ribatejo, mas não foi o meu caso, que gosto de Fafe, destas terras bonitas, destes ares...».
O dr. Leal falou-me dos Encontros dos Cavaleiros do Norte: «Ó pá, você dê-me uma apitadela, que eu quero ir.., nem que seja morto!!!...».
Mas qual morto, qual quê? O nosso médico do Quitexe respira saúde e, em 82 anos, um mês e oito dias dias de vida, só por duas vezes lhe mediram a tensão, aos 50 e as 70. «Vou voltar a medi-la aos 90!!!...», gargalhou o dr. Leal - que do Quitexe tem a mesma saudade que sentem todos os Cavaleiros do Norte. 

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O capitão miliciano médico Leal...

Alferes Garcia e Ribeiro, capitão médico Leal e tenente Luz

Meados de Novembro de 1974 foi tempo do adeus do capitão médico Leal, que pelo Quitexe missionou e suavizou a saúde de militares e civis. Falei hoje com ele. Foi emocionante! Tem 82 anos, feitos em Outubro!!! 82 anos joviais, bem-dispostos e disponíveis, continuando a dar consultas e a servir. Notável sacerdócio!
O dr. Leal, como todos o conhecíamos, era médico de clínica geral, mais tarde especializado em otorrino. Fez milagres pelo Uíge angolano, ora nas guarnições militares, ora ao serviço da administração civil e sempre que, feito João Semana, se dividia pelas sanzalas - onde consultava e distribuía medicamentos pelo povo que sofria dos males do corpo.
Tive o privilégio de integrar muitas escoltas que o levaram em missão por aquelas picadas fora, de ter a graça da sua permanente boa disposição e o gosto de lhe ouvir a farta piada que deitava na espuma da cada palavra e nos alegrava a vida. Imenso!!!
Recordámos hoje, em divertida conversa de memórias, a história do Neto - que inadvertidamente fez uma trocada aplicação de pomadas e «viu» decrescer-lhe uma parte do corpo que vão perceber adiante. A correr e atrapalhado, chamei eu o dr. Leal, que conversava no varandim térreo da messe de oficiais. Foi ele, de passo rápido e com o alferes Garcia à ilharga, acorrer à aflição do Neto e perguntou-lhe o que fizera.
Pois «foi isto e aquilo, sr. doutor!!!...», gritou-lhe o Neto, a doer-se de alma e com o desespero das grandes dúvidas e a angústia a medrar-lhe, na proporção em que lhe decrescia o membro.
«Era o contrário, pá!!!!!.... Faz isto e faz aquilo...», disse-lhe o dr. Leal, a rir-se muito, mas mesmo muito, em gargalhada bem sonora e de mão direita no bolso, a coçar a mesma parte (a dele), que o Neto via a mingar-se-lhe (a própria).
Rimo-nos hoje de tal história, e a farto rir!!!..., e, ao ouvi-lo, como que lhe estava a ver o rosto sempre feliz que passeava pelo Quitexe - sempre disposto a acudir aos males do corpo, fosse de militar saudoso dos cheiros e dos amores deixados no «puto», fosse de nativos ou residentes do Uíge onde fez notável sacerdócio da medicina e do BCAV. 8423 recebeu louvor e condecoração.
- LEAL. Manuel Soares Cipriano Leal, capitão miliciano médico, natural de Santarém e residente em Fafe.
- PUTO. Designação que vulgarmente era atribuída ao Portugal europeu, por ser territorialmente pequeno, em relação a Angola. 
Ver post sobre o capitão médico Leal, clicar AQUI.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dias de Luanda a ficaram piores que os do mato...


A 10 de Novembro de 1974, datado de dois dias antes, recebi aerograma de Luanda, do inesquecível amigo Alberto Ferreira - dando-me conta dos incidentes que por lá se repetiam e metiam armas pesadas e fogo que amedrontava a comunidade civil - habituada ao sossego,à paz e cosmopolitismo de uma grande capital.
«Ou muito me engano, ou isto está a ficar pior que no mato...», assim me contava o cabo especialista da Força Aérea, aqui vizinho de Fermentelos. E acrescentava que «já há medo de andar de noite na rua...» e que uns dias antes «houve m... da grossa no Operário e no Rangel...» - dois dos bairros da cidade.
E a parte mais agradável: «Não tenho ido ao Comodoro. mas tenho passado pela Núvem, onde lá me desenrasco quando me perguntam por ti...».
Falava-me de dois espaços de Luanda, que eram chão e seara de muitos amores pingados e por onde se passeavam «duas almas feitas para nós», do Liceu Salvador Correia de Sá, e, sempre espampanante e a deslumbrar os nossos olhos gulosos, uma antiga estudante contemporânea de Águeda, sobre quem atiçávamos desejos e volúpias. 
«Às vezes, arma-se ao pingarelho..., mas passa-lhe», assim explicava o amigo, de quem me fiz gémeo em aventuras da noite luandina.
Que saudades!!! Que saudades de ter 22 para 23 anos, disponíveis, irreverentes e muito bem vividos! Qual guerra, qual quê!!! 
Ver AQUI.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

A mudança da 3ª. CCAV. 8423 de Santa Isabel para o Quitexe

Flora, Belo, Fernandes e Ricardo, furriéis da 3ª. CCAV. 8423 (Santa Isabel).

 
O mês de Novembro de 1974 do relativamente pacífico no plano operacional, como já aqui foi dito - pelas bandas e chãos do Quitexe-mártir de 1961. Uma das vantagens que capitalizávamos, era o conhecimento do terreno que tinha o nosso comandante Almeida e Brito - que por lá fôra oficial de operações do Batalhão de Cavalaria 1917, em 1968.
Eram, aliás, quase lendárias as histórias que nos contavam da sua acção de então. Por exemplo, a de ter integrado ao vivo (pelo menos) uma operação de grande envergadura militar - «coisa» que não era para a sua patente, mas que terá feito para impôr confiança aos seus homens e alguns medos ao dito inimigo. Não estranharíamos nós muito, tal feito. Dele nos falavam os velhos das aldeias e das machambas do Sub-Sector do Quitexe, por onde nós jornadeámos em missões do mais variado tipo.
«O escavaleiro branco?, heim esfurriééé... homem bravo!!!», exclamaram-nos muitos gentios, falando do então comandante do BCAV. 8423, tenente-coronel Almeida e Brito.E dele conheciámos  nós, por experiência própria, o destemor e o rigor, a autoridade e a disciplina, a competência e a decisão, o carácter firme que não deixava dúvidas, quaisquer que fossem!
Novembro de 1974, ao dia 4, veio ele de férias para Lisboa e assumiu o capitão Falcão o comando - com sucessivas reuniões no Comando de Sector, em Carmona; no Quitexe e nas companhias operacionais. Preparava-se já a rotação de várias companhias e no Quitexe era esperada a 3ª. CCAV., que «morava» por Santa Isabel. São dela os quatro furriéis da foto.
- FLORA. António Pires Flora, furriel miliciano atirador de cavalaria, quadro superior da Caixa Geral de Depósitos, morador em Lisboa.
- BELO. Agostinho Pires Belo, furriel miliciano de Alimentação, natural e residente no Retaxo (Castelo Branco), aposentado da administração fiscal.
- FERNANDES. António da Costa Fernandes, furriel miliciano atirador de cavalaria, professor do ensino secundário, de Lomar (Braga).
- RICARDO. Alcides dos Santos da Fonseca Ricardo, furriel miliciano atirador de cavalaria, residente em Odivelas. 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A tranquilidade do mês de Novembro de 1974

O cessar-fogo anunciado a 15 de Outubro de 1974, não sendo embora cumprido à risca pelos movimentos - pois sempre se registou uma ou outra escaramuças... -, deixou porém, as guarnições militares em estado de muito conforto psicológico e moral elevado. E os operacionais, como era o meu caso (o do PELREC), muito mais descansados.
«Pode dizer-se que o mês de Novembro se caracterizou por uma acalmia não encontrada ha longos anos», sublinha o Livro da Unidade.
Carta minha para minha mãe, que agora reli e datada deste dia de 1974, dá conta que «as coisas estão a correr muito bem, pois os políticos já se entenderam e nós já não fazemos já operações no mato». Lá lhe expliquei o que era uma operação do mato e, dando-lhe alma às esperanças, afirmava-lhe a minha certeza absoluta de que não iriam aparecer problemas.  
Eu datava as cartas, aditando-lhe o dia da semana, e sei por isso que esta carta é de uma 6ª.-feira, uma semana depois do 1 de Novembro. «Fui ao cemitério aqui da vila onde estamos e bem me lembrei do nosso (...), depois passei pela igreja, onde havia cerimónias, mas é muito pequenina e nem entrei». Viria a receber, por não ter entrado, um reprimenda das sérias, no troco do correio: «Já te esqueceste do que te ensinei...», apontou-me minha mãe, num chá de tília que não deixa de me emocionar, neste momemto em que releio o que me escreveu, com data de 16 de Novembro de 1974.
A foto que aqui edito, sentado eu na entrada da  Igreja da Mãe de Deus do Quitexe, enviei-na nessa carta de 8 de Novembro, com a a seguinte legenda: «Aqui estou eu, sentada na entrada da igreja. As placas que vê na fachada estão cheias de nomes de mortos, de quando foi o início do terrorismo, em 1961. Agora, está tudo sossegado». E assim era. A foto é de data anterior ao envio para Portugal.

domingo, 7 de novembro de 2010

O amor do Lopes pela caboverdiana bonita... (fim)




ANTÓNIO CASAL (texto)
(continuado de ontem)

(...) Bem caída a noite, aperaltado à civil e a antever umas  horas luxuriantes, lá foi o Lopes em passo acelerado, ao compasso dos batimentos cardíacos, como se tivesse asas nas pernas.
Foi, mas, para sua surpresa, quando chegou tinha toda a família dela à sua espera e a fazer “guarda de honra”! E não menos aperaltada! Afinal, o momento era cerimonioso!...
Foi aqui que o Lopes, pessoa sempre empolgada mas que transpirava ingenuidade, sentiu as pernas curtas para o passo que dera! Ao aperceber-se da alhada em que se metera, ainda tentou dizer qualquer coisa para salvar a pele, mas viu a voz fugir-lhe! Com um nó na goela, depressa viu que não tinha saída e, instintivamente, fez meia volta volver, e voltou a ganhar asas nas pernas mas em sentido oposto! Só parou na caserna, com o coração aos saltos e os olhos esbugalhados! Todos recearam que morresse ali mesmo!!!
Nos dias que se seguiram, não foi nada fácil escapar à ira dos irmãos da donzela! E agradecido está ao Figueiredo “candongueiro” que, muito diplomaticamente, e de G3 na mão, lhes foi pôr os pontos nos ii!!!
A digerir o susto, esteve quase três meses sem sair da avenida de baixo e limitando-se a tímidas saídas ao bar do Topete, mas sempre acompanhado! Tudo isto nos recordou com empolgamento, gesticulando freneticamente e não omitindo os palavrões da época! E sempre, sempre a pôr-se em bicos de pés para poder olhar por cima dos nossos ombros, qual camaleão, não sei se para se certificar de que a mulher não ouvia a conversa, se por recear que a família da caboverdiana ainda por ali andasse para marcar a data do casamento!!!
ANTÓNIO CASAL
(FIM)
NOTA: A foto não corresponde à mulher da história (foi recolhida na net)