quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

1 168 - Os vigilantes que dormiam no posto de sentinela

Administração do Quitexe (2012), edifício colonial restaurado, mantendo a traça exterior

A paz que por estes dias de Fevereiro de 1975 se vivia pelos lados do Quitexe - e Vista Alegre e Aldeia Viçosa, também guarnições dos Cavaleiros do Norte - não era razão para descurar os serviços mínimos de segurança, nos postos de vigias instalados em posições nucleares da vila. Um deles, era para trás da sede da administração civil.
Uma noite mais folgada, e com a vigilância mais relaxada, deu para os nossos homens se enfiarem em sono colectivo. Três homens de reforço e três homens a dormir.
Eram para aí umas duas horas da manhã, já há muito a vila se punha em vale de lençóis e tinham fechado os bares civis, quando - eu, o Hipólito e Marcos - galgávamos a distância do Posto 5 para o da administração civil, apeados e em plena rua principal, quando, junto ao bar do Rocha, achámos vários homens deitados pelo chão, carregados de álcool. Passasse uma viatura mais pesada, um camião!!!, e seriam esmagados. Mal nos vimos para os arrastar dali, para a frente da administração, onde os entregámos. E seguimos.
O caminho para o posto de sentinela era curto, dali, e, regulamentarmente convencionada, a nossa aproximação deveria ser despistada pelos homens da vigia. Mas, nada disso. Fomos-nos aproximando, aproximando..., com o cacimbo a cair-nos no quico e já com bala na câmara. E nada, nem um breve sussurro da noite, muito menos um sinal do posto de sentinela !
«Ó furriel, isto estranho!...», disse o Hipólito!
«Isto há m...», considerou o Marco. 
Ambos de arma em riste.
O luar da noite angolana fazia sombras à nossa frente e começámos a ganhar medo. O que seria e o que não seria?! Teria este estranho silêncio alguma coisa a ver com os homens deitados na estrada, seria uma armadilha, os nossos homens teriam sido apanhados? A progressão foi tensa e já estávamos molhados de suor quando, a medo e rodada a chave em silêncio, entrámos no posto. E subimos! Os nossos três homens dormiam a sono alto e com as G3 amarradas ao cinturão.
Safou-os o alferes Garcia que, de oficial dia, fez as coisas de tal modo que não houve participação.
- HIPÓLITO. Augusto de Sousa Hipólito, 1º. cabo de reconhecimento de infantaria (atirador). Reside em França.
- MARCOS. João Manuel Lopes Marcos, soldado atirador de cavalaria, residente no Pêgo (Abrantes).

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