domingo, 25 de março de 2012

1 234 - Armas portuguesas para os movimentos - 1

Alferes Machado nas piscinas de Carmona (em cima) e capitão José DiogoThemudo (em baixo)


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JOÃO MACHADO
Texto

Ainda não tinha lido a mensagem do sr. Coronel de Cavalaria Reformado José Diogo Themudo, 2º. Comandante do Batalhão de Cavalaria 8423 em que servimos, no cumprimento da maior parte do nosso Serviço Militar.
Quando a li, não pude deixar de voltar a ler… e reler, pensando no que está escrito no parágrafo que se refere ao cumprimento da nossa missão em terras de África. 
Diz: «Todos nós nos entregámos da melhor forma que sabíamos e podíamos às nossas missões e tarefas. Ainda hoje penso, muitas vezes, se valeu a pena o esforço, o sacrifício e as dificuldades por que passámos. Terá sido a melhor solução? Teria havido outra solução naquela altura? Não sei. Não podemos voltar atrás…”.
É verdade! Este pensamento não é exclusivo, vem-me muitas vezes à cabeça, principalmente quando recordo os acontecimentos vividos em Carmona. Foram tempos difíceis, em que talvez nem nos tivéssemos apercebido da verdadeira realidade da situação que vivemos.
Agora, sinto termos andado em cima de um gigantesco barril de pólvora, maior do que o paiol de munições do BC12 - que sempre me custou deixar inteiro, mas foi melhor assim. 

Pensando conscientemente no contexto em que vivemos naqueles últimos tempos e na célebre coluna militar de desactivação da Zona Militar Norte - que, infelizmente, só acompanhei até Salazar e grande parte do percurso em ambulância, cheio de dores -, não posso deixar de sentir um arrepiozinho e pensar que... “felizmente tudo correu bem ”. 
Recordo-me de, na madrugada de um desses últimos dias,  estando de serviço de oficial de dia, ter chegado alguém, cuja presença não era usual àquela hora da madrugada no quartel, que, depois dos devidos cumprimentos militares, me tentou explicar, caminhando lado a lado pela parada do BC 12, no sentido da porta de armas para o refeitório, que a FNLA e a UNITA reclamavam às altas patentes (militares ou políticas, não sei) o nosso armamento, que pretendiam que lhes fosse entregue em Carmona, alegando que o MPLA estava a ficar com todo o que ia sendo deixado em Luanda e eles achavam-se com direitos iguais, nas zonas que controlavam militarmente. 
Esta situação talvez não fosse descabida de todo e poderia muito bem vir a acontecer por ordens superiores e em prol de um tratamento de igualdade para com todos os movimentos, pretendendo-se, assim, mais um contributo para a tão pretendida paz na descolonização. Assim dizia o meu interlocutor, ainda, não sei se exactamente por estas palavras. 
Também não me lembro exactamente das palavras que usei na resposta, nem de onde veio a coragem para as proferir, mas foram sentidas no seu significado, quando pude manifestar a minha opinião: «Entregar a minha arma? Isso seria a ultima coisa que faria no cumprimento do meu serviço militar». Entregaria, sim, porque não era minha, mas a farda do Exército Português essa não vestiria mais. Iria para Luanda, mas como civil e, então, agradeceria a escolta de comandos, pára-quedistas, apoios aéreos etc., que, a verificar-se esta situação, já estaria prometido e possivelmente já planeado, mas o melhor mesmo seria o regresso de avião. Nós tínhamos os nossos soldados e eu, sendo um deles, era em quem confiava. Talvez não tivessem sido por acaso as palavras que o nosso comandante de Batalhão me dedicou no final da comissão e que tenho orgulho de citar: «tornou-se  sobretudo notório no todo coeso que conseguiu dos homens que directamente comandou». 
JOÃO MACHADO
Continua amanhã
Mensagem do capitãoJosé Diogo Themudo: ver AQUI
- MACHADO.João Francisco Pereira Machado, alferes miliciano de Operações Especiais (Ranger´s). Aposentado a administração fiscal e residente em Lisboa.

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